terça-feira, 12 de maio de 2009

Sonhando com Borboletas

Maldito Lorenz, pensava ele. Caminhava lentamente pelas ruas tentando discernir a ressonância de seus passos e a ordem de seus atos. Como aquilo afetaria seu universo dentro de instantes? As oportunidades surgem como e por que? Será que a opção num determinado contexto é muito mais do que uma simples escolha e aquilo pode cambiar para sempre o curso da vida do escolhedor?

Ficou criando hipóteses sobre isso enquanto acendia o último cigarro do dia. O vento estava forte naquela noite, bagunçando os cabelos comportados e extremamente castanhos do rapaz. O porte de nerd e o linguajar intelectual, motivo de chacota e de irritação para muitos, agora se convertia em uma dúvida serena estampada na face: O que acontecerá no próximo segundo? Haverá um outro depois deste?

Esperou ansioso durante alguns instantes como se esperasse que a Terra explodisse, mas nada aconteceu. A lua continuou no mesmo lugar, um cachorro latiu em algum ponto distante, o vento soprou ainda mais forte e o padrão de seus cabelos mudou novamente. Nada de super novas, alienígenas ou furacões. Sentia-se extremamente frustrado por não conseguir ver coisas grandes e pelas pequenas passarem despercebidas. Que a simplicidade fosse tamanha que sua complexidade exacerbasse o limite racional.
Pensou com seu coração e soltou um sorriso tímido. Todas as relações, beijos, carinhos, brigas, viéses e lágrimas teriam uma relação para algo maior ou só para o próximo algo? Se não pegasse o ônibus na segunda-feira e sim o metrô, isso definiria sua morte? Acreditava que sim.

Seria Deus um homem? Uma inteligência que compreendeu todas as variáveis do universo e a resumiu em uma única fórmula? O passado deixaria de existir e também o futuro, nesses termos. Para um Ser assim, tudo se passaria no presente. Bom, pelo menos Ele teria bem mais facilidade em aprender línguas, poderia eliminar muitas conjugações verbais com seu novo estado de consciência.

A W3 estava vazia, como sempre durante a madrugada brasiliense. Panfletos de compra e venda de ouro voavam pelo asfalto ao sabor do vento e volta e meia num canto soturno, uma figura disforme observava de soslaio o transeunte solitário. Sentiu-se feliz por não saber de tudo.
Imaginou que apesar dos pesares, seus últimos atos tinham conduzido a uma situação bastante confortável, que a magia do caos dá certo e que Deus não só joga dados com o universo, como diria Einstein, como também os joga onde ninguém possa vê-los. Atravessou a fronteira despreocupado, pela parte de cima. Esperou o dia seguinte pacientemente. Chegou às portas de sua morada sem um pingo de suor, com um pouco de sede e sem cigarros, louco por um bom banho e o sumiço daqueles pensamentos malucos.

Esta noite dormiria aguardando o caos e seus atratos paradoxalmente ordenados. Sonharia com um fractal da natureza e faria um desenho no dia seguinte. Mostraria a todos no final do dia que o mundo estava para acabar e que mesmo assim todos estavam felizes. Conceberia a verdade da existência e assistiria seus ossos se convertendo de chumbo em ouro pouco antes do Juízo Final.

pluralitas non est ponenda sine neccesitate

Carmani

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sociedades Secretas

Sociedades.

Não se decidiu até hoje se estas existem ou não. Pode ser que seja apenas um fruto da ideologia de uma classe ditadora e não um conceito sociológico per se. O fato é a existência de um sinônimo que explicita sociedade como um quatitativo de cidadãos de um país regido por um sistema político, instituições nacionais e um conjunto de normas próprio.

Sociedade vem do latin societas "aliança amigável", este por sua vez deriva de socius "companheiro". Mas a etimologia não é o objeto de estudo deste texto e sim o quão podemos ser surpreendidos pelas coisas incompreendidas no nosso universo.

Dentro de uma determinada comunidade, sociedade ou qualquer outro nome que seja dado, pelo menos nos termos racionais (na biologia, sociedade significa um grupo de animais que vivem em conjunto tendo algum tipo de divisão de tarefas), existem grupos e associações adjacentes, obscuras, escondidas debaixo dos panos que muitas vezes passam despercebidas pela massa de indivíduos preocupados com sua rotina costumeira. Maçons, Illuminati, Strigoi, a Sociedade do Anel (?), entre outros são exemplos clássicos do que falamos. Todas as grandes metrópoles possuem grupos desse tipo e como tal, Brasília não é diferente.

Por outro lado, Brasília engloba por trás de sua face de cidade política comunidades inteiras de pessoas gentis, legiões de intelectuais, grupos extensos de babacas e uma reca sem precedentes de idiotas sem cérebro mas todas estas não são secretas e sim implícitas. Nesse caso, nem uma organização formal existe! Apenas uma troca de afinidades e juízos de valor que mantém seus componentes unidos.

As sociedades secretas podem funcionar das maneiras mais diversas: De cunho fechado aceitando membros apenas por indicação, de grupo social (emos), de classe financeira (academia de tênis? quem malha naquele lugar?) ou podem até mesmo nem ter a pretensão de serem secretas.

É exatamente o sentido que tento colocar em epígrafe. Esse tipo acaba por exemplificar apenas um mundo diferente cujas pessoas que não vivem nele, estão numa superfície, universo tão distinto que não realizam sua existência. Acabam cegas pela sua própria noção de ver as coisas e esquecem de manter os ouvidos atentos ao burburinho sussurrado nas entrelinhas de uma conversa despreocupada.

As pessoas reunidas nesses lugares dos mais conflitantes sabores os frequentam afim de conseguir algo de interesse mútuo, seja bebendo do mesmo cálice ou perambulando pelas árvores durante a noite. O líquido profuso descendo pela garganta ou o vulto soturno caminhando lentamente e olhando-o mesmo que você não veja o brilho de seus olhos, não é o êxtase que se busca: A verdadeira contenda e anseio se foca no objetivo a ser atingido.

Isto é tão forte que pode trazer pessoas solitárias para locais assim e revoltar outras que passam em frente estranhamente sapientes do que se passa e ao mesmo tempo fora de contexto. Aquilo que nos resta em momentos assim, no que tange os fora de contexto, é um retrato contemporâneo das velhas algaravias medievais de camponeses atirando pedras à moça albina, condenada de bruxaria pelo seu defeito genético, ou no velho herborista praticante de medicina com corpos roubados de um cemitério qualquer, só que mais verbal do que físico logicamente.

Elencados esses argumentos, podemos concluir que a sociedade tem como uma de suas funções trazer a satisfação de desejos e necessidades dos seres que a compõe, que não precisam ser necessariamente nobres ou aceitos por todos, mesmo que outros seres, componentes ou não dessa sociedade, não saibam disto.

A vida muda e o contexto muda quando conhecemos uma sociedade diferente. Somos engolfados por uma tempestade de novas texturas e impressões que jamais poderíamos imaginar que aconteciam ali, debaixo de nossos bigodes. Cabe a nós apenas escolher
entre o conhecimento e a ignorância a partir do instante que a oportunidade nos é oferecida.
Você sabe do que estou falando?
Carmani

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Os Efeitos do Ópio - Primeira Parte

Modelos... Cada pessoa dentro de seu próprio pensamento, idealiza um parceiro ideal para estar ao seu lado. Alguém que possa corresponder às suas expectativas. Noções básicas de amor e aceitação nas acepções do idealizador as quais, em sua maioria, não refletem a verdade.

A explosão de sensações e atitudes repentinas decorrentes do processo de comunicação pode ser algo bem assustador para os despreparados: Uma palavra errada, um sorriso que possa transparecer sarcasmo ou mesmo atitudes forçosamente condicionadas para a correspondência de um desejo podem, e fazem com que tudo saia da maneira errada. E assim acabam casamentos, amizades de décadas e amores perfeitos.

Essa visão, reação das coisas que acontecem, advém de que todos nós cumprimos papéis sociais nos locais que frequentamos. A maneira com a qual agimos em nosso trabalho, jamais será a mesma que procedemos em nossa casa. Neste viés, podemos supor que a interação social em si, apesar de ser uma maravilhosa ferramenta, permitidora da evolução humana, dá uma margem imensa a dissimulações, embustes, falácias, mentiras, safadezas, fuleiragens e todo o tipo de cachorrada que algum no sense queira fazer com outro.

Ora, as pessoas não esperam exatamente isso? Estar inserido em algo previsível cujo contexto é estático em maior parte dos casos e totalmente dedutível? Bom dia se responde com bom dia! Um sorriso se responde com um outro sorriso. Seguir estas normas implícitas não é somente uma conduta socialmente aceita como também o jeito mais agradável de se relacionar com os outros, não é?

É... Entretanto esse contexto não marca o que realmente somos em sua totalidade. Somos particionados, o somatório de dezenas de papéis, comportamentos, status e reações nas mais diversas situações (mesmo sendo defronte um espelho). Aí é onde mora o perigo.

Quantas vezes você já foi comprado pelo seu modus operandi?
E a velha frase: "você não era assim...", já a ouviu?
Os enganos são comuns, eu arrisco dizer, são inevitáveis. Aí é onde mora o amor.

O dito sentimento se faz pela capacidade de superação.

Pelo descobrimento,mesmo que tardio, dos medos e sonhos daquele(a) que está ao nosso lado.
Não é o engano em si o portador do amor, tampouco é uma prática consciente desta "enganação" (isto se chama mentira), e sim o significado do que vale a pena ou não.

O amor é uma questão de pesos.
É a capacidade de discernir, aceitar e sacrificar pelo outro, em prol do outro.
É adorar ao ponto de não somente suportar os defeitos mas de vê-los como algo saudável, nato e que permite crescimento.
É enlouquecer de saudade não pelo fato do objeto de seu desejo não estar ali e sim porque ele se foi no dia anterior e você sente medo.

Esse é o sonho, mas os modelos nunca são aquilo que realmente queremos. O que o homem mais quer e ao mesmo tempo mais teme são surpresas:

Dar um sentido na vida, um novo direcionamento, mas ao mesmo tempo algo capaz de mostrar a ele o que se tornou e quão acomodado está.

Os ideais são feitos de sonhos mas não são sonhos. Modelos não são feitos de sonhos.
Claro, todos temos problemas. Os cinco sentidos do homem são fiéis, mas tendenciosos às ações inerentes a todo ser.

Logo:

Só enxergamos o que queremos,
Só comemos o que gostamos,
Só farejamos desconfiança,
Só ouvimos falar mal dos outros,
Só tocamos o que nos toca antes,

E por isto e aquilo continuamos na espera...

Qual é o som de um sentimento?


Carmani

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Uma mescla de luzes

Não conseguia compreender direito a cena que estava vendo: a luz do poste que se extendia defronte o garoto de cabelos arrepiados, as três da manhã de um domingo, parecia se misturar com a árvore que a circundava.

Tinha que parar de beber. Tinha que parar de fazer estas caminhadas ridículas no meio da noite. Não era seguro para o corpo nem para o espírito.

Lá estava eu novamente, o garoto. Fazia uma noite calma, com vento nas copas das árvores quase aleatoriamente dispostas pelas quadras mórbidas brasilienses, uma cena comum de uma cidade que não tem hora do rush, que morre pouco antes do quarto minguante e que esconde suas pessoas aos domingos.

Agora quero que você imagine, perspicaz leitor, como é está mesma cidade numa madrugada de domingo: Nenhuma alma nas ruas. Volta e meia vê-se um carro passando cantando pneus ou despreocupadamente passeando com seu condutor trôpego, mas é só.

Se eu fosse esta cidade eu sentiria saudades das pessoas nos domingos. Eu invejaria o faustão, detentor de mais atenção por parte de meus habitantes do que eu com meus ipês! Invejaria as camas quentes e me entristeceria pelas almas que em minhas ruas vagam, sem que possam lembrar-se de si mesmas, por não haverem espelhos em volta com suas antigas faces nos rostos.

Eu teria raiva dos vândalos. Mas nem raiva, depois de um pedaço, poderia sentir deles. Afinal, quem me vê depois do ocaso senão eles? Quem liga mesmo que pejorativamente senão eles?

Se eu fosse esta cidade eu mandaria ao diabo o título de patrimônio histórico e ansearia o amor dos mais velhos que aqui estão, e que cada vez menos vejo passear nas entre quadras, com seus sorrisos costumeiros e olhar distante.

Se eu fosse esta cidade eu invejaria aquele garoto. Porque ele como alguém que tem suas raivas, seus impulsos e a quem direcioná-los, pode pensar somente nele, se assim desejar. Ele pode se arrepender, mesmo que não possa voltar atrás, e pode se lamentar por ser tarde demais quando sente falta de algo que perdeu.

Ele pode ficar arredio e soltando faíscas pelas pontas dos fios de cabelo só para provar um ponto de vista. Mais do que tudo isso, diferentemente de mim, ele tem sete dias de vida por semana.

A única coisa que eu, se fosse esta cidade não invejaria, é a capacidade do ser humano de não se importar.

É a ausência de perguntas.

Você se importa?
Carmani